terça-feira, 3 de novembro de 2015

Angulares - Alda do Espírito Santo

Alda Neves da Graça do Espírito Santo (São Tomé e Príncipe 1926 - 9 de Março de 2010), conhecida como Alda do Espírito Santo, foi uma escritora e poetisa de língua portuguesa.




ANGULARES



Canoa frágil, à beira da praia,

panos presos na cintura,

uma vela a flutuar...

Calema, mar em fora

canoa flutuando por sobre as procelas das águas,

lá vai o barquinho da fome.

Rostos duros de angolares

na luta com o gandú

por sobre a procela das ondas

remando, remando

no mar dos tubarões

p'la fome de cada dia.

Lá longe, na praia,

na orla dos coqueiros

quissandas em fila,

abrigando cubatas,

izaquente cozido

em panelas de barro.



Hoje, amanhã e todos os dias

espreita a canoa andante

por sobre a procela das águas.

A canoa é vida

a praia é extensa

areal, areal sem fim.

Nas canoas amarradas

aos coqueiros da praia.

O mar é vida.

P'ra além as terras do cacau

nada dizem ao angolar

"Terras tem seu dono".



E o angolar na faina do mar,

Tem a orla da praia,

as cubatas de quissandas,

as gibas pestilentas,

mas não tem terras.



P'ra ele, a luta das ondas,

a luta com a gandú,

as canoas balouçando no mar

e a orla imensa da praia.

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