terça-feira, 22 de setembro de 2015

A avó - Olavo Bilac

A Avó


A avó, que tem oitenta anos,
Está tão fraca e velhinha! . . . 
Teve tantos desenganos! 
Ficou branquinha, branquinha, 
Com os desgostos humanos. 

Hoje, na sua cadeira, 
Repousa, pálida e fria, 
Depois de tanta canseira: 
E cochila todo o dia, 
E cochila a noite inteira. 

Às vezes, porém, o bando 
Dos netos invade a sala . . . 
Entram rindo e papagueando: 
Este briga, aquele fala, 
Aquele dança, pulando . . . 

A velha acorda sorrindo, 
E a alegria a transfigura; 
Seu rosto fica mais lindo, 
Vendo tanta travessura, 
E tanto barulho ouvindo. 

Chama os netos adorados, 
Beija-os, e, tremulamente, 
Passa os dedos engelhados, 
Lentamente, lentamente, 
Por seus cabelos, doirados. 

Fica mais moça, e palpita, 
E recupera a memória, 
Quando um dos netinhos grita: 
"Ó vovó! conte uma história! 
Conte uma história bonita!" 

Então, com frases pausadas, 
Conta historias de quimeras, 
Em que há palácios de fadas, 
E feiticeiras, e feras, 
E princesas encantadas . . . 

E os netinhos estremecem, 
Os contos acompanhando, 
E as travessuras esquecem, 
— Até que, a fronte inclinando
Sobre o seu colo, adormecem . . .

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