quarta-feira, 8 de julho de 2015

Adeus à hora da largada - Antonio Agostinho Neto

Antonio Agostinho Neto nasceu em Icola e Bengo, Angola. Estudou medicina em Portugal. Foi um dos dirigentes do movimento de independência de seu país.




Adeus à hora da largada



Minha Mãe

(todas as mães negras

cujos filhos partiram)

tu me ensinaste a esperar

como esperaste nas horas difíceis



Mas a vida

matou em mim essa mística esperança



Eu já não espero

sou aquele por quem se espera



Sou eu minha Mãe

a esperança somos nós

os teus filhos

partidos para uma fé que alimenta a vida



Hoje

somos as crianças nuas das sanzalas do mato

os garotos sem escola a jogar a bola de trapos

nos areais ao meio-dia

somos nós mesmos

os contratados a queimar vidas nos cafezais

os homens negros ignorantes

que devem respeitar o homem branco

e temer o rico

somos os teus filhos

dos bairros de pretos

além aonde não chega a luz elétrica

os homens bêbedos a cair

abandonados ao ritmo dum batuque de morte

teus filhos

com fome

com sede

com vergonha de te chamarmos Mãe

com medo de atravessar as ruas

com medo dos homens

nós mesmos



Amanhã

entoaremos hinos à liberdade

quando comemorarmos

a data da abolição desta escravatura



Nós vamos em busca de luz

os teus filhos Mãe

(todas as mães negras

cujos filhos partiram)

Vão em busca de vida.



(Sagrada esperança)

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