sábado, 30 de janeiro de 2016
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
Não te amo - Almeida Garrett
Não te amo
Não te amo, quero-te: o amar vem d’alma.
E eu n’alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!
Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.
Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?
E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'
E eu n’alma - tenho a calma,
A calma - do jazigo.
Ai! não te amo, não.
Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida - nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!
Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.
Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?
E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau, feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.
E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.
Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas'
sábado, 23 de janeiro de 2016
sábado, 16 de janeiro de 2016
Lusitânia Querida - Marquesa de Alorna
Lusitânia Querida
Lusitânia querida! Se não choro
Vendo assim lacerado o teu terreno,
Não é de ingrata filha o dó pequeno;
Rebeldes julgo os ais, se te deploro.
Admiro de teus danos o decoro.
Bebeu Sócrates firme seu veneno;
E em qualquer parte do perigo o aceno
Encontra e cresce o teu valor, que adoro.
Mais que a vitória vale um sofrer belo;
E assaz te vingas de opressões fatais,
Se arrasada te vês, sem percebê-lo.
Povos! a independência que abraçais
Aplaude, alegre, o estrago, e grita ao vê-lo:
"Ruína sim, mas servidão jamais!"
Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'
Lusitânia querida! Se não choro
Vendo assim lacerado o teu terreno,
Não é de ingrata filha o dó pequeno;
Rebeldes julgo os ais, se te deploro.
Admiro de teus danos o decoro.
Bebeu Sócrates firme seu veneno;
E em qualquer parte do perigo o aceno
Encontra e cresce o teu valor, que adoro.
Mais que a vitória vale um sofrer belo;
E assaz te vingas de opressões fatais,
Se arrasada te vês, sem percebê-lo.
Povos! a independência que abraçais
Aplaude, alegre, o estrago, e grita ao vê-lo:
"Ruína sim, mas servidão jamais!"
Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
Sonho - Marquesa de Alorna
Sonho
Perdoa, Amor, se não quero
Aceitar novo grilhão;
Quando quebraste o primeiro,
Quebraste-me o coração.
Olha, Amor, tem dó de mim!
Repara nos teus estragos,
E desvia por piedade
Teus sedutores afagos!
Tu de dia não me assustas;
Os meus sentidos atentos
Opõem aos teus artifícios
Mil pesares, mil tormentos.
Mas, cruel, porque me assaltas,
De mil sonhos rodeado?
Porque acometes no sono
Meu coração descuidado?...
Eu, quando acaso adormeço,
Adormeço de cansada,
E o crepúsculo do dia
Me acorda sobressaltada.
Arguo então a minha alma,
Repreendo a natureza
De ter cedido ao descanso
Tempo que devo à tristeza.
Que te importa um ser tão triste?...
Cobre de jasmins e rosas
Outras amantes felizes!
Deixa gemer as saudosas!
Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'
Perdoa, Amor, se não quero
Aceitar novo grilhão;
Quando quebraste o primeiro,
Quebraste-me o coração.
Olha, Amor, tem dó de mim!
Repara nos teus estragos,
E desvia por piedade
Teus sedutores afagos!
Tu de dia não me assustas;
Os meus sentidos atentos
Opõem aos teus artifícios
Mil pesares, mil tormentos.
Mas, cruel, porque me assaltas,
De mil sonhos rodeado?
Porque acometes no sono
Meu coração descuidado?...
Eu, quando acaso adormeço,
Adormeço de cansada,
E o crepúsculo do dia
Me acorda sobressaltada.
Arguo então a minha alma,
Repreendo a natureza
De ter cedido ao descanso
Tempo que devo à tristeza.
Que te importa um ser tão triste?...
Cobre de jasmins e rosas
Outras amantes felizes!
Deixa gemer as saudosas!
Marquesa de Alorna, in 'Antologia Poética'
sábado, 9 de janeiro de 2016
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
A mão enorme - Jorge de Lima
A mão enorme
Dentro da noite, da tempestade,
a nau misteriosa lá vai.
o tempo passa, a maré cresce,
o vento uiva.
A nau misteriosa lá vai.
Acima dela
que mão é essa maior que o mar?
Mão de piloto?
Mão de quem é?
A nau mergulha,
o mar é escuro,
o tempo passa.
Acima da nau
a mão enorme
sangrando está.
A nau lá vai.
O mar transborda,
as terras somem,
caem estrelas.
A nau lá vai.
acima dela
a mão eterna
lá está.
Dentro da noite, da tempestade,
a nau misteriosa lá vai.
o tempo passa, a maré cresce,
o vento uiva.
A nau misteriosa lá vai.
Acima dela
que mão é essa maior que o mar?
Mão de piloto?
Mão de quem é?
A nau mergulha,
o mar é escuro,
o tempo passa.
Acima da nau
a mão enorme
sangrando está.
A nau lá vai.
O mar transborda,
as terras somem,
caem estrelas.
A nau lá vai.
acima dela
a mão eterna
lá está.
sábado, 2 de janeiro de 2016
E nem são semelhantes oh nunca dina - Abreu Paxe
Abreu Castelo Vieira dos Paxe é um poeta angolano nascido em 1969, na Província do Uíge. Filho de operário e de mãe doméstica, venceu o concurso "Um Poema para África" em 2000.
e nem são semelhantes oh nunca dina
a face intrínseca cinza o mato porta espessa
o centro da cidade palavras sem cidade
abraço desordenado cenário o beijo exílio
aflora frio fruto feito flor flutuando fechado
corpo refaz-se barbudo estigma centrada pátria
adjetivos aos pares os advérbios sem verbos os nomes
e nem são semelhantes, oh nunca dina
os vestígios antecipadas normas habituada incineração
o povo coincide com a vidraça nasce pequena lembrança
face intrínseco deserto o mato porta espessa
In A Chave no Repouso da Porta, INIC, Luanda, 2003, p.12
e nem são semelhantes oh nunca dina
a face intrínseca cinza o mato porta espessa
o centro da cidade palavras sem cidade
abraço desordenado cenário o beijo exílio
aflora frio fruto feito flor flutuando fechado
corpo refaz-se barbudo estigma centrada pátria
adjetivos aos pares os advérbios sem verbos os nomes
e nem são semelhantes, oh nunca dina
os vestígios antecipadas normas habituada incineração
o povo coincide com a vidraça nasce pequena lembrança
face intrínseco deserto o mato porta espessa
In A Chave no Repouso da Porta, INIC, Luanda, 2003, p.12
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